Antes do carnaval eu havia agendado para retirar o kit degustação de um dos bem casados mais famosos do Rio de Janeiro. Saí cedo, fui trabalhar e no horário combinado eu estava lá para buscá-los.
Caixinha na mão.
Por uns instantes aprecio toda a delicadeza da caixinha, mas instantes mesmo, pois logo em seguida a sensação era de desespero. Eu precisava saber quantos bem casados aquela caixa seria capaz de armazenar. Imediatamente eu abri e contei: 1, 2, 3, 4... meu Deus... 5, 6, e SETE!
SETE doses de pecado.
No instante da constatação inúmeros pensamentos me vieram à mente. Neste momento descobri que não me conheço e que, na verdade, posso assumir, sem piedade, o papel da minha pior inimiga.
"Não comentei com ninguém que viria aqui, posso comer todos eles e ninguém nunca saberá".
"Posso dar um para minha irmã e outro para minha mãe e comer o restante, elas não precisam saber quantos vieram na embalagem. E além do mais, eu ainda comerei 5!".
"Quantos propontos tem um bem casado?"
"Sábado tem reunião do Vigilantes, será que essas calorias farão diferença?"
"Eu quero os sete!"
"Meus Deus, isso é doença!"
"Sim. Eu posso comer os sete, ninguém vai ver."
Esses foram alguns dos pensamentos.
Foi atordoante. Fui da estação Cantagalo até à Cinelândia num duelo terrível com este monstro que, infelizmente, ainda mora dentro de mim.
Cheguei no Centro no horário do almoço e ainda teria outra reunião de trabalho às 15h. Decidi parar com a tortura e almoçar. Talvez o desespero fosse fome, quem sabe?
Entro no restaurante e encontro, casualmente, duas amigas com quem trabalho.
Eis que o dilema volta:
"Dou ou não dou?"
"Se cada uma pegar um, vão restar APENAS cinco que vou precisar dividir com minha mãe e irmã, não sobrar nada para mim."
"Eu vou dar!"
"Não. Nem pensar!"
E foi sem pensar que eu falei:
"Meninas, vocês estão prestes a participar de uma das escolhas mais importantes da minha festa!"
Abri a caixa e pedi que cada uma escolhesse um.
Foi festa na mesa!
Cada uma pegou o seu e naquele instante eu fui envolvida por capa de felicidade por ter dividido aquele momento com minhas amigas. Mas o dilema continuava.
Elogiaram o doce e papo vai, papo vem... eu disse: não querem mais?
"Você ficou louca? E se elas aceitarem?"
Aceitaram!
Menos um.
Levaram para o escritório para dividir com uma terceira amiga. E escolheram bem. Levaram o único que tinha cobertura de chocolate, justo esse. Quase pedi que devolvessem e trocassem por outro.
Nos despedimos. Segui para a minha reunião com APENAS quatro doses de pecado e um dilema remanescente, afinal de contas eu ainda precisava decidir o que fazer com aquilo.
Cheguei em casa e não liguei para os doces e sua caixinha dourada. Tratei de me ocupar com outras coisas. Mas, na minha cabeça o plano era guardar até amanhã após a pesagem. Claro! Como não havia pensado nisto antes?
Mas, para o meu desespero, minha irmã chegou e acabou com meus planos. Descobriu o pote de ouro e foi logo admirando o tesouro. Solução: comê-los. Então, seguindo a dica da Bê, com quem dividi esta aflição durante o dia, sugeri que cada uma pegasse um e que o quarto ficaria para o Príncipe. Todas aqui, inclusive eu, sabemos que ele não curte doce, nenhum tipo. E logo resolvemos a questão: vamos dividir. Resolvi encarar a situação e parar de fugir do que me atormentou o dia inteiro! Buscamos uma faca e repartirmos em 3 pedaços cada um dos doces. Eu pedi, conscientemente, que eu ficasse com a menor parte. E assim foi, comi um 1/3 de cada sabor, exceto de doce de ovos que não curto muito. Resultado: dos 7 bem casados que eu seria capaz de comer, fiquei com apenas um, caso eu somasse todas as partes dos três sabores que provei. Sensação de alívio nível máximo!
Nath Wins!
E este episódio, talvez banal para alguns, acabou virando uma lição para mim. A primeira lição que tiro é que o monstro ainda está aqui, ele mora aqui há anos! Nem dormindo ele está, está bem vivo e esperto, apenas esperando uma situação que lhe favoreça. A segunda lição é que, mais uma vez, o controle é fundamental. Estar no controle da situação é o segredo, não vou cansar de repetir isso nunca! Outra lição é que todo gordinho é egoísta quando o assunto é comida. Alguém tem a coragem de desmentir? Eu odeio dividir comida!!! Odeio quem mexe no prato ou belisca minha batata-frita no McDonald's.
Hoje, depois de ter vivenciado a situação e sendo capaz de analisá-la sob outro prisma, percebo o quão somos doentes. A relação com a comida é doentia, não existe outra classificação. Fico apavorada só de lembrar que eu seria capaz de comer SETE bem casados bem grandinhos por pura gula e descontrole. E sendo bem sincera, eu comeria mesmo!
Hoje, eu entendo que foram atitudes e pensamentos como estes que me trouxeram até aqui, onde estou.
Deprimente.
No fim das contas eu fiquei muito feliz com o desfecho do episódio, percebi que somos capazes de dizer NÃO e que o poder está aqui, bem em nossas mãos. Eu quero. Eu posso. Eu consigo.
Por hoje, eu consegui.
Um beijo.
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E se alguém ficou na curiosidade, caixinha era exatamente esta |
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